“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (Atos 2.42.)

 A NECESSIDADE DO ENSINO

Havia um enorme desejo de se aprender o que os apóstolos tinham a ensinar e isso resultava em forte entendimento de salvação e da Graça por partes dos cristãos primitivos. Em sua época não havia o Novo Testamento e o ensino era baseado na Escritura (Velho Testamento) e nas palavras de Jesus. Hoje temos a Bíblia, fonte única de ensino e conhecimento de Deus, contendo todos esses ensinos.  O texto cita o ensino como a primeira atitude obviamente por que não é possível imaginar uma igreja saudável que não ama as verdades do evangelho e que não tenha sido transformada por elas.

Voltando ao propósito do artigo, como podemos encarar o evangelismo como a solução dos problemas de uma congregação onde o ensino é desprezado e as verdades da Bíblia, rejeitadas? Qual mensagem será levada ao não convertido em um panorama desses? E se, mesmo assim, ele aceitar a convivência com a igreja, como será garantida a conversão e transformação dele sem o verdadeiro ensino bíblico (1)?

Logo, é impensável um evangelismo dissociado do ensino e do estudo sério da Palavra de Deus. A mensagem do evangelho deve chegar ao ímpio. E ao responder positivamente a ela, ele deve encontrar um ambiente de ensino dentro da igreja para que sua fé se desenvolva.

A COMUNHÃO

A transformação experimentada pelo ensino resultava em pessoas de diferentes características compartilhando a mesma fé e a mesma esperança – a volta de Jesus – gerando edificação e crescimento na igreja. Os primeiros capítulos de Atos tratam de problemas que surgiram ali, mas nada que impedisse os cristãos quanto ao seu papel.

Será traumático para o novo convertido crescer em um ambiente hostil e dividido, com facções. A recomendação da Bíblia para ter os olhos fitos em Jesus será afetada e, certamente, ele tenderá a algum grupo.  No longo prazo haverá desentendimentos e ressentimentos, levando alguns a deixar a igreja local, inclusive aquele membro que a igreja evangelizou.

Antes de qualquer iniciativa evangelística, é necessário que a igreja olhe para si e tenha uma noção do que o novo convertido irá receber dela, no curto e longo prazo. Se o que a igreja tem a oferecer não for saudável, em termos de comunhão, ao seu crescimento, a campanha poderá desmoronar, apesar do bom treinamento daqueles que irão evangelizar e discipular o novo membro.

ADORAÇÃO

Há quem defenda que o “partir do pão” presente no texto em questão se referia à prática visível da comunhão, com refeições diárias nas casas uns dos outros. No entanto, há a explicação de que esse texto refere-se também à celebração da Ceia, conforme ensinou Jesus. Como a comunhão já foi comentada, vou focar a questão da celebração.

A celebração da Ceia é, além de um sacramento, uma atitude de gratidão e profundo reconhecimento da obra de Cristo e o que ele garantiu a nós com ela. Ela nos lembra da nova aliança inaugurada por Jesus por meio do seu sofrimento, morte e ressurreição. Sua prática deve ser precedida por um entendimento bíblico da salvação, caso contrário ela torna-se um mero formalismo.

Isso posto, além do ensino e da comunhão, a igreja deve ser uma comunidade de celebração, em que as verdades da Graça e do Amor de Deus impulsionam a igreja, e os membros individualmente, a uma vida de adoração e constante alegria pela nova vida operada pelo Espírito Santo no pecador. E essa adoração como estilo de vida, por meio de atitudes e conduta que glorificam a Deus em todas as áreas da vida do convertido.

Uma igreja que perde o gozo pela salvação consumada por Cristo perde também a real motivação de um culto a Deus. Em vez de ser uma reunião de salvos celebrando uns com os outros a Jesus por seu amor, o culto, na verdade, transforma-se numa reunião social, rotineira e fria. No que diz respeito ao evangelismo, não é possível oferecer a salvação em Cristo a não convertidos quando a alegria por possuí-la está apagada.

O SERVIÇO

Permita-me inserir o versículo 35 do capítulo 4 nesse comentário:

“E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.”

Um dos desdobramentos da comunhão é o serviço ao próximo, como resultado do amor em nós gerado por Cristo. As necessidades de toda a igreja eram conhecidas por todos, dando-lhes um profundo senso de responsabilidade para com o próximo. Ou seja, a comunhão funcionava plenamente, e não apenas em cumprimentos rápidos ou forçados durante o culto por meio de petições de pregadores ou cantores. Além disso, o serviço demonstra que a comunhão entre os irmãos sai das quatro paredes do templo e atinge a vida diária do membro. Diáconos – aqueles que efetivamente servem – devem ser todos os cristãos. A quem servir? A igreja, o pastor e o próximo por que isso se constitui serviço a Deus. Como bem disse Dietrich Bonhoeffer, a Igreja só é Igreja quando existe para os outros.

A igreja deve estar atenta a esse aspecto e o novo convertido deve receber condições de crescer na graça e no conhecimento. E o serviço prestado a ele, seja de qual natureza for, é essencial.

A ORAÇÃO

Um dos aspectos importantíssimos para a igreja é a prática constante e bíblica da oração. E essa prática deve demonstrar que a mesma igreja depende de Deus para o suprimento de suas necessidades, para obter conhecimento dele por meio da sua Palavra e para cumprir seu papel como espelho de sua glória para o mundo.

A igreja de Atos era uma igreja de oração. Ela era o meio pelo qual levava a Deus as afrontas e perseguições que recebia para obter dele livramento. Isso é dependência.

Além disso, era uma igreja que nutria e mantinha uma comunhão com Deus por intermédio da prática da oração individual e coletiva, conforme vemos no episódio da libertação de Pedro.

Esses princípios devem ser ensinados ao novo convertido. Mas antes, esse ensino deve ser acompanhado da oração na prática, vivida pelos membros e praticada publicamente.

CONCLUSÃO

Uma igreja avivada é uma igreja que prega o evangelho e ganha almas.  Mas é também uma igreja que ama e ensina as verdades da Palavra de Deus; que busca e aperfeiçoa a comunhão com Deus e com os irmãos; que vive e celebra as conquistas de Jesus para nós, por meio de sua vida e obra; que é guiada pela vontade de Deus e a conhece, também, por meio da oração.

Esses entendimentos devem nos levar a certeza de que o evangelismo não pode ser entendido como a solução para os conflitos internos da congregação e seus problemas. O evangelismo é a consequência de uma igreja que já está em plenas condições de fazer novos discípulos, dando-lhes condições, em seu seio, de dar frutos; ele é consequência também de uma igreja que entende seu papel perante a “nuvem de testemunhas” que a rodeia, vivendo a diferença e a transformação que somente cristo pode oferecer.

(1)  – Verdadeiro ensino bíblico é aquele que expõe fielmente as verdades da Bíblia, possibilitando ao pecador conhecer sua necessidade de Deus e poder enxergar Jesus como seu único salvador. O falso é aquele que se vale de alguns textos bíblicos para impor ao novo convertido um conjunto de regras abraçado pela congregação e dar a elas um falso valor salvífico.

.:Pr. Valmir Alencar